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Entrevista a Aryane Barros sobre os efeitos do fast fashion à sociedade e ao meio ambiente

“Se é contrária à ideia de sustentabilidade, então, é um pensamento ultrapassado”, afirma a entrevistada

O jornal Calandragem entrevistou a professora Aryane Holanda Barros sobre a ideia mercadológica do fast fashion e os seus diversos impactos sociais e ambientais, essa ideia de produção e consumo é adotado pelos diversos setores da indústria da moda. Por falar em moda, durante um limitado tempo essa foi a opção de graduação de Aryane, que não chegou a se formar, mas tem familiaridade na área. Barros possui formação em gestão ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), tem especialização em gestão e educação ambiental, mestrado em desenvolvimento e meio ambiente, e atualmente leciona no curso técnico de meio ambiente no mesmo instituto em que se formou.

Calandragem - Qual é o seu conhecimento sobre fast fashion? E por que ele é um modelo insustentável?

Aryane Barros - É a indústria da moda rápida, a ideia voltada para a passagem da moda e também a durabilidade das peças. Ela traz o raciocínio contrário ao defendido pela sustentabilidade, que é de consumir e usar somente o básico e o necessário. O fast fashion vem com o pensamento do indivíduo consumir os produtos da moda, vestuário, jóias, bijuteria, calçados, de forma muito passageira. A estratégia engloba tanto a ideia da passagem da moda quanto a baixa durabilidade e qualidade das peças, incentivando o consumismo.

Calandragem - Esse modelo de produção trouxe quais impactos ao solo e ao meio ambiente de forma geral?

Aryane Barros - Quando se fala na indústria da moda, pensa-se mais no impacto das peças sem grande valor devido não estarem mais na moda. Só que tem também o impacto na produção. São efeitos ambientais, geralmente, muito intensos no consumo da matéria-prima, na geração dos resíduos sólidos, líquidos e químicos da produção têxtil, na coloração das peças e até na lavagem dos produtos. Impactos não só da fabricação como também do pós-consumo, pois são produtos de baixa durabilidade e de alta tendência a virar lixo.

Calandragem - No Brasil, anualmente são descartadas cerca de 175 mil toneladas de produtos têxteis, sendo que somente 36 mil são reaproveitados. Quais as consequências desta ação aos ciclos ambientais?

Aryane Barros - Causa implicação na depreciação dos recursos naturais. Esse impacto promove a necessidade de retirar cada vez mais recursos naturais, devolvendo à natureza e em forma de resíduos sólidos, líquidos e, em alguns casos, gasosos também. É prejudicial à natureza porque tem capacidade de se recompor, mas esta tem seu próprio tempo. Quanto mais rápida é essa transformação industrial menor é a possibilidade da natureza se recompor. O que se observa é produção, consumo e descarte rápidos e em grande quantidade. Essa velocidade causa um impacto na transformação da retirada da matéria-prima e devolução em forma de lixo. Tal consequência impacta, sobretudo, elementos naturais, como solo, atmosfera e recursos hídricos.

Calandragem - Quais atitudes devem ser tomadas pelas indústrias da moda para minimizar os impactos ambientais causados pelo fast fashion?

Aryane Barros - A primeira questão é voltada ao consumismo: se é contrária à ideia de sustentabilidade, então, é um pensamento ultrapassado. Os empreendedores devem compreender que isso não significa perda nos lucros, porque eles podem adotar estratégias de vendas sem se centralizarem no consumismo. Há outras formas de consumo mais consciente que rompem, inclusive, com a necessidade inventada e geradora do ciclo vicioso do consumo. Além disso, é preciso mudar as tecnologias empregadas para a transformação da matéria-prima por tecnologias limpas.

Calandragem - Qual a sua visão acerca da estratégia em tornar o ato de comprar em um caminho que leva o indivíduo a ilusória felicidade?

Aryane Barros - Estamos imersos na era da comunicação e das redes sociais. Nelas, influenciadores digitais persuadem o modo como deve ser a alimentação das pessoas, como devem se vestir e também se comportar, e essa manipulação é aceita pela população. Temos, por exemplo, a blogueira que desmanchou uma chuteira para fazer de roupa, e muitas pessoas fizeram igual. Há também a ideia da compra ser sinônimo de poder e beleza, instigando ao consumo impulsivo. Além disso, os algoritmos das redes sociais bombardeiam informações sobre produtos. O Instagram, por exemplo, que mostra várias ofertas de produtos para que o usuário compre com facilidade, enfim, tudo aliado à facilidade em consumir.

Calandragem - Até pouco tempo os brechós eram sinônimo de roupas velhas e mal conservadas, mas hoje é possível encontrar um aumento desse mercado. Ele é um aliado sustentável nessa luta contra o fast fashion?

Aryane Barros - Com certeza, porque ele vai nadando contra a maré, contra essa onda da moda em que você tem que comprar e consumir cada vez mais os produtos do momento. Ademais, os brechós trazem essa ideia de que as roupas não são descartáveis e que eu posso resgatar peças para usar.

Calandragem - Você acha possível um futuro ecológico para a indústria da moda?

Aryane Barros - Acho que tem um grande potencial, mas ele tem que despertar, uma vez que os órgãos empresariais ainda permanecem muito na ideia de lucrar por meio do consumismo. É preciso superar essa mentalidade consumista para, logo após, introduzir a ideia da sustentabilidade dentro dos processos produtivos.

Texto: Fabrício Freitas (em grupo)