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Evasão escolar no ensino médio teresinense: cenário pandêmico amplia casos de desistências

Segundo pesquisa do IBGE, o último ano do nível médio é o mais afetado

O número de evasão escolar no ensino médio possui um aumento contínuo na capital piauiense, crescimento esse que é impulsionado por diversas razões presentes no cotidiano estudantil, como desincentivo familiar, falta de recursos financeiros e mercado de trabalho. Fatores que se somaram ao atual contexto pandêmico, tornando a questão da evasão escolar preocupante para as gestões escolares e para os especialistas da área.

Ao contrário do ensino fundamental no município, que manteve a estabilidade no número de matrículas nos últimos anos; o médio apresenta uma diminuição nessa quantidade. Esse desequilíbrio também se estende em seus três níveis, sobretudo no terceiro ano, como mostra a pesquisa estatística sobre a educação básica realizada pelo IBGE em 2021.

Formação educacional incompleta

A desistência dos estudos é considerada crítica pelas direções escolares do território teresinense, visto que ela atinge a formação estudantil do alunado, como alega a coordenadora pedagógica do Ceja Gayoso e Almendra, Raquel Cruz: “Ela afeta diretamente a continuidade do estudo dos nossos alunos, faz com que eles abandonem a escola e os estudos, não prossigam e não tenham uma formação específica, a fim de poder ingressar num curso superior, poder também está mais qualificado para o mercado de trabalho”.

Com a chegada da pandemia de COVID-19, a evasão escolar obtém um crescimento significativo devido ao surgimento de novas barreiras, como a carência de equipamentos tecnológicos e o acesso à internet. Essa intensificação é observada de forma desafiadora tanto pelas gestões escolares quanto pelo corpo estudantil, segundo a declaração da diretora do Ceti Professor Edgar Tito, Maria Gizonha Cunha: “Primeiro surgiu o medo [da contaminação], a adequação em trabalhar sobre forma remota e a dificuldade no acesso à internet por muitos alunos”.

A coordenadora do Ceja Gayoso e Almendra complementa a discussão apontando outros obstáculos que emergiram no vigente cenário pandêmico, como alunos que perderam o emprego, entes queridos, amigos, fatores que afetam o psicológico e o emocional. Além disso, ela acrescenta o ponto sobre a ideia da antivacina defendida por alguns estudantes: “Outro problema são os casos de alunos contra a vacinação perante o decreto estadual, o qual torna obrigatório a vacinação e a apresentação do comprovante por todos”.

Motivos para a desistência dos estudos

No que diz respeito às causas que levam ao abandono escolar no ensino médio teresinense, o fator socioeconômico é julgado como o principal, como diz a coordenadora da Unidade Escolar Firmina Sobreira, Maria da Cruz Sousa: “Pela gravidez, a falta de transporte, o trabalho, a pobreza”.

A especialista em educação, Dra. Lucineide Barros, reitera a questão do mercado de trabalho e cita outros pontos cruciais, como a falta de expectativa e a oferta de vagas: “Tem a questão do ingresso no mercado de trabalho. Um mercado que não permite compatibilizar ensino e formação [...] há a falta de horizontes da juventude quando olha para o que a formação escolar pode favorecer”, afirma a especialista. “A oferta de ensino médio. No estado do Piauí, tem-se uma população rural ainda muito grande, e praticamente não se tem escola de nível médio nesse meio rural”.

Lucineide Barros encerra seu discurso delineando o perfil dos estudantes que mais tendem a desistir dos estudos na capital piauiense, a qual destaca as disparidades sociais como item fundamental: “Encontra-se a desigualdade socioeconômica como um dos fatores preponderantes, porque são essas pessoas [com vulnerabilidade social] quem mais enfrentam problemas para continuar na escola”, declara a doutora. “É necessário superar as desigualdades sociais, porque não se vai atacar a desigualdade educacional, se não superar a social”.

Construção de futuro e caminhos

O acadêmico de enfermagem, Pedro Henrique, de 21 anos, é exemplo de estudante que evadiu da escola por razões econômicas: “Dependência financeira foi o motivo”, admite o estudante. “Naquele momento, trabalhar para ganhar dinheiro era mais importante do que estudar para mim”.

Pedro Henrique parou de frequentar a escola quando estava no primeiro ano do ensino médio em 2016. No ano seguinte, voltou a comparecer às salas de aula com o objetivo de concluir os estudos, só que tornou a desistir mais uma vez para poder trabalhar. A segunda recaída se estendeu por dois anos.

Em 2019, Pedro Henrique prestou a prova do Encceja, a fim de reingressar nos estudos de modo definitivo. Essa decisão foi tomada uma vez que o acadêmico identifica o ensino superior e a especialização como pontos decisivos para seu futuro: “O que me fez voltar a estudar foi acreditar que a melhor forma de construir um futuro e ter uma estabilidade financeira é estudando, é tendo o ensino superior”.

Por fim, o estudante de enfermagem indica caminhos pelos quais se tente evitar a evasão escolar no ensino médio, dando foco às causas financeiras e à família: “Primeiro o fator socioeconômico: ter estrutura financeira para não fazer abandonar os estudos, assim como estrutura e apoio familiar: é importante ter uma família que oriente a saber que o ensino é a melhor forma de ser alguém na vida”.

Texto: Fabrício Freitas (em grupo)