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Retomada de shows: decisão econômica ou sanitária?

Embora haja um avanço na vacinação, agentes de saúde não aprovam a decisão

Governos Estaduais anunciaram, entre julho e outubro de 2021, a retomada de shows e de eventos nas regiões de todo o país. Essa decisão é posta como uma forma de flexibilização das medidas de segurança sanitária e que promove divergências de opinião entre artistas e profissionais de saúde.

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, houve uma queda de casos confirmados e de óbitos. Sendo assim, líderes governamentais iniciaram o processo de flexibilização nas rígidas medidas de proteção social. A declaração sancionada libera a abertura de espaços culturais e festivos com limite de participantes. No entanto, há controvérsias de opinião entre grupos que se mantêm da arte e agentes de saúde pública.

O decreto não é posto como padrão para todas as regiões do país, visto que cada estado possui uma situação específica de atuação contra a Covid-19. Como exemplo, traz-se o Maranhão, tendo 85,97% de doses aplicadas em sua população, segundo a Secretaria de Saúde local; ao passo que, em Brasília, apenas 57,30% da população possui a vacinação completa, de acordo com a sua Secretaria de Saúde.

Para fins ilustrativos, cita-se a medida da retomada de shows e eventos tomada pelo Governo do Estado do Amazonas: o decreto local estabelece o limite de 75% da ocupação pelo público em espaços culturais e comemorativos, tais como circos, parques de diversão, cinemas, teatros e feiras culturais. Porém, é obrigatória a apresentação do comprovante de vacinação em todos esses ambientes.

A publicação dessa sentença suscitou no antagonismo de visões entre o grupo artístico, os organizadores de eventos e os profissionais de saúde. Para a comunidade que possui apenas shows e apresentações como meio de renda, tal declaração estadual se faz necessária, como menciona Valéria Miranda, cantora e radialista piauiense. “Está mais do que na hora de voltar, pois outros setores já voltaram, e nós precisamos trabalhar”.

Miranda prossegue sua fala confessando a intensificação desse grave cenário em virtude da desassistência política. “Foi mais complicado para meus colegas cantores, pois a maioria dependia só da música”, lamenta. "Nem todos conseguiram o Auxílio Emergencial e poucos ainda receberam o Auxílio Emergencial Cultural”, detalha.

Os organizadores de eventos entendem o retorno de shows como a volta do financiamento vindo de seus frequentadores. Isso tudo a fim de bancar a elevada carestia dos aparatos necessários para sua sobrevivência, como afirma o promoter Branco Velaskke. “Precisamos trabalhar para manter o custo de vida que está alto”. “Além disso, as festas em si promovem o divertimento das pessoas”, pontua.

Em contrapartida, agentes de saúde se posicionam contra essa medida de flexibilidade, tendo em vista a presença da má supervisão sanitária quanto ao nível de ocupação, como relata a enfermeira Carolina Valadares. “Fiscalização ainda é muito aquém da necessária”. Além do mais, o déficit do mapeamento de casos confirmados no país é outro obstáculo que preocupa a enfermeira. “Fazer o rastreamento da infecção por Covid no Brasil; e de acompanhar realmente a quantidade de novos casos”, aconselha.

Para Valadares, há também “a questão de aceitar a entrada de pessoas que não estão vacinadas ou, estão, com esquema vacinal incompleto nesses estabelecimentos”. Para tanto, ela recomenda o uso do passaporte de vacina em eventos culturais. “Foco na permissão apenas de pessoas efetivamente imunizadas contra a Covid e, também, a realização da investigação precoce de casos novos”.

Marcelo Carneiro, infectologista e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), alerta que o acesso a áreas festivas deve ser feito apenas por pessoas com o esquema vacinal completo. “A retomada de eventos é para pessoas que estão completamente imunizadas”, determina em uma entrevista dada a Gazeta do Sul. Isso feito para evitar a volta do disparo de internações hospitalares, assim como evitar a promoção de novas variantes do vírus.

O Governo Federal, por sua vez, manifesta seu descontentamento acerca de tal comprovante de vacinação, uma vez que Mário Frias, ministro da cultura, assinou, no dia oito de novembro de 2021, uma portaria que proíbe os beneficiários da Lei Rouanet a adotarem essa medida de proteção. Isso sob a pena de desvinculação do projeto e de multa.

Após o veto, Frias usou suas redes sociais para justificar sua decisão. “A proibição do famigerado passaporte de vacinação, nos projetos da Lei Rouanet, visa garantir que medidas autoritárias e discriminatórias não sejam financiadas com dinheiro público federal e violem os direitos mais básicos da nossa civilização”, escreveu no Twitter.

Texto: Fabrício Freitas (em grupo)